quarta-feira, 8 de setembro de 2021

BRASIL DE MAL A PIOR: O FANATISMO E SUAS CONSEQUÊNCIAS

Imagem retirada da internet - Blog Faro Fino
FÃ OU FANÁTICO? REFLEXÕES SOBRE ESSE COMPORTAMENTO O clima no Brasil está muito “intenso”, razão suficiente para fazer uma reflexão a respeito. Por que tantas pessoas desenvolvem conexões emocionais tão fortes com políticos, celebridades e outras figuras públicas? Inicialmente devemos entender que as pessoas têm uma necessidade inata de buscar conexões, se encaixar numa hierarquia social e criar sua "comunidade idealizada" com seus fãs. Ou seja, quando procuramos por fãs, procuramos por conexões, porém muitos se esquecem que é preciso ter cuidado para não se tornarem fãs demais. Quero dizer, que o perigo é tornar-se fanático, o que pode ser descrito por duas características básicas: a absorção da individualidade na ideologia coletiva e o desprezo pela individualidade alheia. Considere “individualidade” como a combinação única de fatores que faz de cada pessoa um ser único e insubstituível. Quanto mais diferentes, menos as pessoas podem ser reduzidas a traços gerais e mais exigem a compreensão do seu jeito pessoal. Isso implica em dizer que só de maneira parcial e deficiente é que a personalidade criadora se enquadra em categorias gerais como “estilo de época”, “ideologia de classe”, etc., algo que os estudiosos sociais inventaram para falar de médias humanas indistintas, mas que o medíocre insiste em aplicar como camisas de força a tudo o que vá além da média. Veja que em insistir, já há a evidência, de forma disfarçada, do fanatismo ao qual me refiro. O fanatismo traz à sociedade uma espécie de recorte das individualidades baseando-se numa mediocridade-padrão. Adeptos fanáticos de políticos ou de partidos, por exemplo, acabam limitando o papel dos demais, agindo, portanto, como se fossem verdadeiros gênios da mediocridade e codificadores do fanatismo. Não considere fanatismo apenas na interpretação comum da exaltação frenética. O verdadeiro fanatismo, manifesta-se sereno e moderadamente, sem a necessidade de ser irritadiço, nervoso ou raivoso. Apenas, ele está tão afinado com a ideologia coletiva que ela basta como canal para a expressão de seus sentimentos, vivências e aspirações. De fato, não há como não notar que, de uns tempos para cá, as pessoas estão manifestando opiniões cada vez mais radicais, seja sobre política, sexualidade, direitos humanos, religião, etc. Traduzindo: os casos de fanatismo vêm ganhando proeminência. As redes sociais parecem facilitar a divulgação desse tipo de mensagem, que acaba encontrando eco entre outros radicais e se retroalimentando. Trata-se de discursos cheios de extremismo, de uma obsessão descontrolada por um conceito, um personagem ou uma pessoa, algo que, na verdade, numa visão psicológica, acaba sendo prejudicial tanto ao fanático como para quem convive com ele. E o que está por trás do fanatismo? Seria uma forma de ocultar fragilidade e insegurança? Acho importante entender as bases dessa radicalização, até mesmo porque não se trata de um movimento exclusivo do Brasil, mas que vem ganhando força em todas as sociedades. Claro que uma coisa em comum é a adesão incondicional à "causa", uma adesão sem diferenças nem limites, a ponto de tornar o fanático cego às outras possibilidades e disposto a fazer o inimaginável para defender suas ideias. Com esse tipo de postura, evidentemente é impossível manter um diálogo saudável. Isso sugere um narcisismo coletivo que, frente a diferenças de opiniões, pode fazer com que as pessoas reajam agressivamente, com dificuldade para ouvir, expressando ódio, preconceitos, estreitamento mental e competitividade (vendo o que não pensa igual a ele como um inimigo). A mim, dá a certeza de que estão construindo muros que protegem um espaço para os iguais e que divide o mundo entre os que pensam como eles e "os outros", criando-se, consequentemente, a figura do inimigo, além de acarretar em falta de empatia e de compaixão. Para um psicólogo, são razões para muita preocupação pois essas pessoas estão se aprisionando em convicções ao invés de libertarem-se. A gravidade é maior se lembrarmos dos estudos que indicam que “é mais fácil que um fanático mude o foco do seu fanatismo do que passar a adotar um comportamento tolerante”. Isso estaria associado a uma estrutura mental adquirida, permeada por distorções cognitivas. Em termos neurológicos, fala-se que essas pessoas desenvolveram uma "rígida rede neural" por meio da qual certos caminhos neuronais em seus cérebros foram tão fortemente reforçados que faz com que eles mantenham idéias e opiniões contra evidências contrárias opostas. Uma outra vertente para reflexões é a seguinte: seria, o fanatismo, uma resposta à insegurança e o medo ao julgamento dos demais, funcionando como um escudo de proteção? Quer dizer, a pessoa se fecha em convicções “inquestionáveis” para não ter que lidar com a sua própria fragilidade? Em minha opinião, os fatores promotores do fanatismo são: Rápidas mudanças sociais - em tecnologia, oportunidades econômicas, mudanças durante a vida, tradições, ideais, valores, expectativas, etc. O fato das pessoas se sentirem desconectadas do passado, assustadas no presente e sem controle do futuro. Competição feroz e globalização. Sentimento de que os outros estão adquirindo status e recursos que poderiam "ser seus". A ilusória sensação de conforto em pertencer a uma comunidade fechada composta por pessoas com a mesma opinião. Privação e desigualdade socioeconômica. Líderes carismáticos que, de modo confiante, fazem grandes promessas oferecendo prosperidade, segurança e estabilidade. O fanatismo (en passant, um fenômeno mundial) está aumentando talvez por conta de uma superpopulação esmagadora no mundo. No Brasil, a fome, a eterna seca e a pobreza aliam-se à migrações populacionais, à turbulência política e instabilidade social, e participam do enfraquecimento das normas culturais de consenso anteriores. Questionamentos ideológicos que levam à dissolução dos laços familiares é uma razão importante para o crescimento do fanatismo, assim como a crescente concentração da riqueza e tantos outros motivos que o espaço não seria suficiente nem adequado para discutir. Entretanto, não se pode deixar de mencionar o oportunismo de líderes fanáticos capazes de transmitir uma mensagem simples com poderosa convicção e constante propaganda, líderes que negam a verdade, manipulam a realidade objetiva, distorcem fatos e criam notícias falsas, líderes que são intolerantes à contradição e destroem a oposição, deslegitimam e censuram visões alternativas, líderes que dividem as questões e as pessoas nitidamente em boas e más e que criam bodes expiatórios e alvos de ódio. Reproduzido de O GUARDIÃO DA AMAZÔNIA.

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