sexta-feira, 18 de outubro de 2019

Joice Hasselmann diz que traição é 'modus operandi' do governo

A deputada federal Joice Hasselmann (PSL/SP) Foto: Agência Câmara
A deputada federal Joice Hasselmann (PSL/SP) Foto: Agência Câmara
Deputada, que foi retirada da liderança do governo, critica Bolsonaro por interferir na escolha de líder na Câmara em favor do próprio filho
BRASÍLIA — Destituída do cargo de líder do governo no Congresso, após apoiar a manutenção do delegado Waldir (GO) na liderança do PSL na Câmara, a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) criticou o presidente Jair Bolsonaro por "interferir na escolha direta de um líder sendo este líder seu filho". Segundo ela, ao manobrar o partido para que o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) assumisse o lugar de Waldir, Bolsonaro "interferiu no Poder Legislativo", usando a estrutura do Palácio e a força do cargo.
Em entrevista ao GLOBO, Joice afirmou que sua retirada da liderança no Congresso "é uma traição clara", mas que não se surpreende. Isso porque, nas palavras da deputada, é o "modus operandi" que se abate contra todos que "tiveram uma confiança dedicada ao presidente", citando como exemplo auxiliares demitidos por Bolsonaro, como Gustavo Bebianno, ex-secretário-geral da Presidência, e Santos Cruz, ex-ministro da Secretaria de Governo.
Joice também criticou Eduardo Bolsonaro, afirmando que ele se juntou com um grupo de deputados querendo "implodir o partido". Bolsonaro, segundo áudios vazados, atuou pessoalmente, conversando com os deputados para que destituíssem de Waldir em favor do filho. A crise que atinge o PSL fez o partido rachar entre o grupo que apoia Bolsonaro e os fieis ao presidente da sigla, Luciano Bivar. 

Como a senhora viu a destituição da liderança?

Eu já estava esperando que houvesse alguma retaliação, porque eu não quis fazer o jogo que foi proposto pelo Eduardo (Bolsonaro) e um grupo de deputados que que queriam implodir o partido. Até porque isso acaba ferindo uma palavra que foi dada pela maioria do partido a pedido do próprio Eduardo lá no começo do nosso mandato. Eu mesma fui contra fazer um líder por lista, o Eduardo pediu, veio conversar e sugeriu o Waldir. Para apaziguar, demos a palavra que durante esse ano ele seria o líder. Não dá para mudar a palavra de acordo com os ventos. Ninguém aqui é biruta de aeroporto.
Não achei correto o uso da estrutura do Palácio e da força do próprio presidente para interferir num outro poder, interferir no Poder Legislativo, interferir na escolha direta de um líder, sendo este líder seu filho. Até porque é uma briga absolutamente desproporcional. Você tem um grupo de deputados (de um lado) e o presidente da República (de outro). E mesmo assim, vimos que não houve força suficiente.
Eu não participei e não concordo. E por não concordar e ter assinado a lista do delegado Waldir, para cumprir uma palavra empenhada com o próprio Eduardo no começo do ano, acabei sendo punida por isso. Mas já imaginei que isso fosse acontecer, tanto que já tinha avisado dentro do partido que na semana que vem entregaria minha liderança. Eles se anteciparam e me comunicaram pela imprensa. Fiquei sabendo pela imprensa.

A senhora se sente traída?

Não me sinto traída, apesar de ser uma traição clara, de quem trabalhou pelo governo, pelo presidente, de quem rodou esse país pela reforma da Previdência. Então, é claro que é uma traição absolutamente clara. Mas eu deixei também de forma muito franca que eu jamais seria a primeira a trair. Mas eu sabia que cedo ou tarde eu seria traída, porque é o modus operandi. Todos que trabalharam muito, tiveram uma confiança dedicada ao próprio presidente em algum momento passaram por isso. Veja o caso de Gustavo Bebianno, depois o Santos Cruz, amigo de quarenta e tantos anos. Mas sigo para me dedicar ao meu mandato e a candidatura à prefeitura.

Em mensagem, a senhora disse que salvou o presidente de um impeachment. Como isso aconteceu?

O presidente precisou, alguns meses atrás, de um crédito extra de R$ 248 bilhões. O governo simplesmente não tinha o que fazer, não tinha esse crédito e ia parar totalmente. É o PLN (projeto de lei do Congresso Nacional) 4. O governo ia parar de pagar o Bolsa Família, o BPC, não ia poder lançar o Pronaf. Comandei esse PLN tanto na CMO (Comissão Mista de Orçamento) e na sessão do Congresso que aprovou unanimidade: 479 votos a favor. Porque fiz um grande acordo de pacificação para que a oposição votasse pelo PLN desde que trabalhássemos para descontingenciar o dinheiro da educação, para terminar as obras do São Francisco, para liberar as bolsa do CNPq. Com isso, consegui aprovação. Se não tivesse (aprovado), o presidente teria que cometer pedaladas, como Dilma cometeu para pagar esse benefícios sociais. Estaria com o pescoço na guilhotina para um processo de impeachment a depender de eventuais desgastes de popularidade. Com o PLN, retiramos essa guilhotina do pescoço do presidente. E quem coordenou fui eu.

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