Não basta ter cuidado com aquilo que você publica online. Curtir,
compartilhar e retuitar também podem prejudicar muita gente. Na roleta
russa da internet, esse tipo de interação já arruinou vidas e levou a
condenações na Justiça. Está com o dedo no gatilho? Então pense bem
antes de clicar.
Você
conhece a história de alguém que se deu mal por causa de algo que
publicou - ou foi publicado - na internet. Pode ser aquela foto
constrangedora do funcionário. Um comentário muito idiota, dificilmente
dito em voz alta. Tem também o vídeo íntimo, gravado em um momento de
empolgação, e o print daquela conversa no WhatsApp, quase tão secreta
quanto o tal vídeo. Se a criação desse conteúdo exige cautela, o mesmo
vale para quem curte e compartilha o material. Oh, yeah. Seu riso ou
gesto de indignação, traduzido naquele joinha com jeitão inocente, pode
contribuir para arruinar vidas. Em alguns casos, até acabar com elas.
A
acusação é forte e você tem todo o direito de achá-la exagerada. Há
também quem argumente que o autor mereça essa superexposição,
equivalente ao tamanho de sua besteira. O problema é que, no tribunal
chamado internet, as regras não são claras. Um mesmo conteúdo pode
passar despercebido ou gerar reações das mais indignadas. E qualquer um
pode parar no banco dos réus por um descuido tão pequeno quanto um
tuíte. Independentemente do crime, a sentença vai de leve (um ou outro
"kkk") até o grau avançado de hostilização, incluindo aí ameaças de
morte. Com o agravante de toda essa história ficar registrada na rede
para sempre.
A prática de humilhar publicamente leva o nome de shaming
(envergonhar, em português), uma subdivisão do já conhecido bullying. A
ação tem crescido na internet e ganhou destaque com o recente
lançamento do livro "So You've Been Publicly Shamed" (Então Você foi
Publicamente Humilhado, em tradução livre), do jornalista inglês Jon
Ronson. É dele o tapa na cara dos internautas: quando o shaming é feito a
distância, como drones remotamente controlados, ninguém tem a dimensão
dos danos causados. E essas mesmas pessoas ignoram a força do poder
coletivo. "O floco de neve nunca se sente responsável por causar a avalanche", compara Ronson, batendo agora na outra face. Ai!
Você
pode nunca ter tido a intenção de praticar shaming. Mas sejamos
honestos: o censorzinho da maldade está em plena atividade quando se
compartilha a desgraça alheia. É ou não é? Claro que existe gente
disposta a constranger e ridicularizar qualquer criatura viva do
planeta, mas não foram eles que colocaram o vídeo íntimo daquela
desconhecida no seu grupo do WhatsApp. Atribuir essas atitudes a pessoas
declaradamente mal-intencionadas seria eximir nós e nossos amigos do
mal que circula em nossas próprias timelines. Se o conteúdo está lá, é
porque esse bando de gente "de bem" o compartilha. E também o consome,
fazendo a engrenagem girar.
Ao comentar recentemente como foi
massacrada após envolver-se com o ex-presidente dos EUA Bill Clinton, a
hoje ativista social Monica Lewinsky, 41, apontou para a existência de
um mercado online movimentado pela humilhação pública: quanto mais
vergonha, mais cliques. Monica se considera a primeira pessoa a perder a
reputação pessoal de forma quase instantânea, em escala global, com o
empurrão da internet. Ela admite seus erros, mas classifica a reação
como sem precedentes. "Essa pressa por julgar promovida pela tecnologia cria multidões de atiradores de pedras virtuais. "
No evento onde falou sobre o preço da vergonha, emocionou o público e
foi aplaudida de pé. Mas na internet, sem o olho no olho, foi só tiro,
porrada e bomba.
"É uma ferida aberta que nunca vai fechar"
A
jornalista Rose Leonel teve suas fotos íntimas divulgadas por um
ex-namorado após o fim da relação. Ela conta como essa exposição, sem
prazo de validade, devastou sua vida e a de seus familiares.
Reproduzido de: http://tab.uol.com.br/humilhar-internet/
Titulo- FARO FINO
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