Com certeza você já ouviu falar de
Márcia Wayna Kambeba do povo omágua/kambeba, mestra em geografia, escreve
poemas, canta, recita e sempre conta para as pessoas a história de seu povo,
aqui vamos falar um pouco sobre sua vida, sua trajetória, e sua luta junto aos
povos indígenas.
Foto: Márcia Kambeba |
Márcia vieira da
silva artisticamente conhecida por Márcia Wayna Kambeba, nascida em 1979 no
alto Solimões (Amazonas), em uma aldeia chamada Belém do Solimões pertencente
ao povo ticuna, convivendo com o povo ticuna até aos 8 anos de idade ela e sua
família deixaram a aldeia por motivos de saúde e foram em busca de melhorias.
Márcia conta que na época as casas eram feitas de palha e as ruas não eram
asfaltadas, ela guarda na lembrança as histórias contadas pelos mais velhos, os
contos e as danças.
Saindo de Belém do Solimões,
Márcia foi morar em são Paulo de Olivença que antes foi a maior aldeia do seu
povo de origem os kambeba, sua avó era poeta, dentro da possibilidade dela
produzia versos e Márcia com 8 anos de idade cantava, fazia discursos quando
apareciam autoridades em sua cidade, nascia ai a paixão pela poesia e também
pela música.
“Como toda criança
estudei o ensino fundamental e médio, com 12 anos de idade fiz minha primeira
poesia também fiz composições, músicas para mim mesma nada ainda para o
público, com 14 anos eu já comecei a trabalhar em rádio, como radialista fiz o
programa chamado “18: horas, hora da prece”, pois sou católica e na época não
existia rádio eu fazia com o módulo de bocas de ferro, depois chegou na minha cidade
uma rádio,uma fm comunitária comecei a fazer programas de entrevistas com
personalidades da cidade, políticos, vereadores e visitantes de fora, era um
programa informativo onde também tocava músicas era chamado “entre amigos”,
fiquei 10 anos na rádio foi o que me ajudou a educar a minha voz e poder usa-la
dentro do que eu quero que hoje é trabalhar com poesia, na época eu cantava e
fazia shows com amigos em barzinhos, aos 15 anos eu comecei a roteirizar e a
fazer peças de teatro, pois na escola onde comecei a me alfabetizar trabalhava
na gente a paixão pelo teatro, atualmente eu roteirizo peças de teatro e também
trabalho atuando nas peças e também em filmes.” Conta Márcia
Saindo de São Paulo de
Olivença, Márcia foi morar em tabatinga (Amazonas), onde iniciou sua faculdade
estudou geografia e começou a lutar pela valorização da cultura indígena, desde
dos 12 anos de idade ela já compreendia a importância de mostrar para o outro a
real cara dos povos indígenas que não é mais de esta em aldeias e muito menos
de falar
errado.
“Os povos indígenas são
educados, se expressam bem, falam bem e se muitas vezes trocam uma palavra por
outra não é porque são ignorantes ou desconhecedores dessa realidade, tem
indígenas que já rodaram o mundo se hospedaram em hotéis de luxo mas continuam
mantendo a simplicidade de ser quem são, sem perder a sua identidade mantendo
sempre o pé no chão, eu ando em outros estados e tenho essa convicção que
outros parentes (nós indígenas nos tratamos assim como parentes), então nós
buscamos informação na escola do branco justamente pra isso, pra poder informar
e fazer a pessoa conhecedora de que nós não somos esses desconhecedores de
cultura, nós temos um saber que nem toda escola pode fornecer a todo mundo”
Declarou Márcia.
Em tabatinga terminou a
sua graduação, as dificuldades enfrentadas ao longo da faculdade foram que na
sua época não tinha cota, ela realizou a prova normalmente concorreu a nível de
estado e foi a primeira aluna da UEA (Universidade do Estado do Amazonas). Ela
lembra que não tomava café e muito menos almoçava, apenas jantava pois
economizava o dinheiro para comprar apostilas obrigatórias para seu estudo,
imediatamente Márcia teve a ideia de voltar com o seu trabalho em rádio e saiu
oferecendo o seu trabalho nas emissoras, nas rádios da Colômbia, Peru e Brasil,
pois ela estava em um município que faz fronteira com Peru e Colômbia chamado
“tabatinga”, em pouco tempo Márcia foi aceita em uma rádio onde começou a
trabalhar como radialista, sua paixão também é pela famosa rádio, só que
atualmente como o seu trabalho exige que ela faça viagens, isso impedi que ela
possa trabalhar fixamente em um só lugar com a profissão de radialista. Em
Manaus a mesma foi em busca de seu mestrado, chegando lá fez especialização em
Educação ambiental em uma faculdade particular, logo em seguida foi tentar o
mestrado na UFAM (Universidade Federal do Amazonas), conquistou o segundo
lugar, ganhou uma bolsa de estudo e essa bolsa foi o suficiente para ela
desenvolver sua pesquisa com o seu povo os kambeba em uma aldeia localizada á
40 km distante de Manaus, o trabalho foi super gratificante onde rendeu uma
pesquisa ótima e uma defesa excelente com o privilégio de ter ganhado 10 pontos
de cada professor na banca de defesa, classificando assim a pesquisa não como
um trabalho mas sim como um documento.
“A importância da
universidade na vida do indígena é essa no registro para com sua memória na
contribuição que nós damos ao nosso povo em voltar ao nosso lugar de origem
levando informações, conhecimento e contribuindo também para que esse povo
continue caminhando lutando, fortalecendo a sua cultura dentro do que nós
chamamos de conhecimento ancestral e cultura material e imaterial”
disse Márcia.
De Manaus Márcia veio
morar em Belém do Pará onde casou e teve um livro escrito aqui em Belém o “AY
KAKYRI TAMA” esse livro tem o objetivo de informar como os povos indígenas
vivem, como estão os povos indígenas hoje em dia, citando as suas aldeias se
fazem uso das tecnologias, ressaltando a preocupação dos povos com a
natureza onde sempre cuidam para que o outro possa usufruir. Os povos
indígenas não gostam de ser chamados de índios, pois eles dizem que essa
palavra carrega negatividade e realmente como vemos hoje em dia a palavra
“índio” gera um certo preconceito então fica a dica “cada povo tem seu nome”,
essa palavra “índio” não os pertencem chamamos de povo, povo como
kambeba, ticuna e por ai vai.
Vejamos uma poesia de Márcia com
relação a esse assunto:
“Não me chame de índio
porque esse nome nunca me pertenceu, nem como apelido quero levar o erro que
Cabral cometeu, por um erro de rota senhor Cabral em meu solo desembarcou e com
desejo de nas índias chegar com o nome de índio me apelidou esse nome me traz
muita dor uma bala em meu peito transpassou, meu grito na mata ecoou meu sangue
a terra jorrou”.
A história de Márcia
Wayna Kambeba é uma história de muita luta aqui contamos um pouco da vida dessa
indígena que tanto batalhou e ainda batalha pelo seu povo, ganhou meu respeito
e minha admiração, parabéns à todos os povos indígenas que lutam para
conquistar cada vez mais seu espaço.
Confira agora uma mensagem deixada
por Márcia:
“Quero agradecer todo o
carinho que recebo em Belém do Pará onde fui muito bem recebida pelo mundo
poético daqui, pelos artistas e parceiros Ivan Cardoso, Joelma Claudia, Aline
Queiroz entre outros. Está em Belém é um prazer muito grande, meu trabalho expandiu
alcançou novos horizontes se encontra até fora do Brasil graças a deus, e eu
tenho prazer de ter dentro dos meus amigos compositores, parceiros de
composição, Edu Toledo do Rio de Janeiro (pianista, compositor, ator),
futuramente vou está lançando meu CD com a produção do Edu, Agradeço ao
Robertinho silva (baterista), Laila Rosa na Bahia ( violinista compositora e
cantora) entre outros. Hoje tenho uma alegria imensa do meu trabalho ter
alcançado o mundo artístico dessa forma e está sendo muito bem aceito e onde eu
vou eu levo o carinho desse povo paraense, digo que sou do Amazonas mas meu
coração é Paraense levando o Pará no meu peito, procuro representar o Pará e o
Amazonas fiz uma homenagem para Belém do Pará com um poema chamado “ Belém
indígena, Belém cabocla” é uma forma de dizer obrigada Belém, obrigada Pará por
esse carinho e contribuição na arte que eu represento da cultura
indígena, obrigada a todos os povos indígenas que compõem a região do
Pará".
EM BREVE:
As músicas de Márcia e seu parceiro
Edu Toledo estarão em um filme chamado “Os Breves” gravado em Breves e que fala
do encontro do indígena com o branco em uma situação de dor e luta. Texto:
Liliane Marques.
Um comentário:
Ontem tive a oportunidade de assistir o Sarau de Márcia no Sesc Boulevar. Foi muito interessante e forte. Ela tem uma voz linda, com muito respeito, doçura e ternura falou do seu povo, da sua cultura. continue assim transmitindo está extraordinaria cultura ao povo brasileiro. Obrigada!
Postar um comentário