Voar no Brasil...
Escrito por um piloto
de companhia aérea para todos os brasileiros que utilizam o meio de transporte aéreo.
Para você entender o que é a
aviação no Brasil deve-se partir da
seguinte ideia; imagine-se dirigindo um carro BMW luxuoso no meio de um safari na África; é mais ou
menos assim que um aviador se sente
voando no Brasil; você tem uma tecnologia de ponta dentro do seu avião e um sistema precário e ultrapassado a sua
volta. Vou explicar porquê.
Atrasos: Os atrasos no Brasil
têm características incomuns comparado
ao mundo afora; quando se tem nevoeiro... somente Guarulhos tem sistema
mais preciso para pouso por instrumento,
conhecido como " ILS categoria 2".
Curitiba também tem, mas lá é tão engraçado que colocam o sistema para manutenção
exatamente em época de nevoeiro. Vergonhosamente Porto Alegre, Florianópolis e
Confins não têm esse sistema. Estes sempre fecham por causa de nevoeiro.
Manaus, que tem uma localização extremamente estratégica e que sempre tem
nevoeiro, porém também não tem sistema ILS. Detalhe... "Nos EUA, são mais
de 100 aeroportos só com ILS categoria 2, fora os de categoria 1 e 3.
Se você, passageiro, está
indo para Porto Alegre, fique sabendo que seu avião não pode alternar
Florianópolis caso Porto Alegre esteja fechado. Florianópolis tem um vergonhoso
pátio para apenas cinco aviões; lembrando que no verão Florianópolis recebe
mais 150 voos de fretamento além dos
regulares. Este aeroporto supracitado, vergonhosamente, não tem taxiway (pista para a aeronave taxiar
até a pista principal), sendo necessário
a aeronave taxiar pela pista principal gerando espaçamento maior entre as aeronaves que se aproximam, ou seja,
ocasionam atrasos.
VOAR NO NORDESTE É MAIS
TRANQUILO
Se você está chegando a São
Paulo, o problema é parecido. Guarulhos está sempre com o pátio lotado, Vitória
e Confins também. Galeão e Congonhas dias atrás ficaram nesta situação, com o
pátio lotado. Quem tinha Galeão como alternativa de pouso teve que escutar um
"negativo" do controlador para alternar aquele aeroporto. Estava no
plano de voo que Galeão seria o
"alternado", Se o controlador aprovou o plano antes de decolar
isso significa que é questão de lei e
não de conveniência de pátio.
Nordeste. Voar no Nordeste é
mais tranquilo por haver menor tráfego
de aeronaves, porém lá tem outro problema: O controle de tráfego aéreo
tem o desserviço de contar com as
aeronaves militares fazendo treinamento que
consequentemente geram atrasos, geralmente de mais de 20 minutos
nas decolagens; o que desencadeia um
atraso bem maior quando essas aeronaves
chegam atrasadas ao sul do Brasil. Na regra internacional uma aeronave
em instrução militar tem preferência
sobre aeronaves civis de passageiro em
pousos e decolagens, porém, se o País quer adotar regras internacionais
ao pé da letra... que construam bases
militares específicas para a função
militar. Lembrem-se que aqui é o Brasil e não Europa ou EUA, onde os
aviões são sequenciados para pouso com
separações de 4 km entre aeronaves, enquanto
que no Brasil é 8 km entre aeronaves e no caso de Florianópolis chega a
20 km por aeronaves por falta de taxiway.
A MENOR DISTANCIA ENTRE DOIS
PONTOS É UMA CURVA?
Saibam que todo piloto brasileiro se sente mais seguro voando nos
EUA, Europa e Ásia do que voando aqui no
Brasil, fato decepcionante, mas vou explicar o porquê...
Aqui no Brasil existe uma
regra: "a menor distância entre
dois pontos é uma curva". Você
sabia que quando você sai do litoral brasileiro e vai pra São Paulo você voa em curva? É
necessário passar por cima do Rio de
Janeiro. Poderia ser direto via Minas Gerais. Esse contorno do litoral
gera em cada voo pelo menos 1000 litros
a mais de combustível consumido.
Nos EUA já não existe mais
aerovia, somente proa direta para o
destino. Lá eles têm acordos com as ONG´s e entendem que quanto menos
tempo um avião ficar no ar menor é o
efeito estufa. Se fosse aqui seria o equivalente a você decolar de Salvador e o
controlador autorizar proa direto de São Paulo. São 1000 litros de querosene
desperdiçados, sendo queimados na cabeça dos cariocas a cada 2 minutos. "Deixe o Green Peace saber disso; o Green Peace ficará super feliz".
"CONCURSEIROS" SEM
COMPROMISSOS
A desculpa não pode ser separação de fluxo, já que os EUA são maiores que o
Brasil, e onde o fluxo aéreo é cinquenta
vezes maior do que no Brasil. O que o Brasil voa em horas de voos em 50 dias, os EUA voam o mesmo em apenas um
dia. "Poderia ser pior, se caísse
neve no Brasil a desorganização aérea seria uma catástrofe diária".
Mas não coloco a culpa nos
controladores. A culpa não é deles. O
sistema brasileiro é que é arcaico e precário. O salário deles é baixo e cheio de
"concurseiros" sem compromisso com o seu trabalho. Alguns são sérios e dedicados,
porém não têm condições de trabalho
dignos. Apenas um controlador cuida de várias regiões do País e todos
sofrem muita pressão para no final das
contas serem menos eficientes que os
controladores americanos, europeus e asiáticos.
Outro dia ouvi um controlador se despedindo no rádio porque
tinha passado em um concurso melhor –
isto é vergonhoso para um país que quer ser "primeiro mundo", mas
desejei a ele sucesso e espero que ele esteja feliz no emprego bem remunerado que ele tem agora .Talvez ele não
tenha sido valorizado como deveria.
VOAR NO BRASIL É UMA PERIGO
Eu como piloto de linha
aérea digo sem exagero que voar no
Brasil hoje é como estarmos voando numa espécie de alerta amarelo. Outro acidente está bem próximo de acontecer.
Ao decolar não significa que temos a
certeza de pousar no destino nem no
aeroporto de alternativa. Outro dia
cinco aeroportos estavam literalmente fechados por falta de pátio; Confins, Galeão, Vitoria, Guarulhos e
Campinas. Você tem que decolar de
Brasilia para São Paulo com combustível suficiente para alternar
Salvador.
ENTREGANDO A SOBERANOA
NACIONAL
Isso irá tornar a aviação
brasileira inviável, sem mencionar a venda
de nossas companhias aéreas para países vizinhos, em decorrência das
altas taxas de impostos sobre as mesmas,
que por isso, para sobreviverem no mercado,
submetem-se a parcerias miraculosas inclusive mudando a sede da empresa para países vizinhos para se livrar
dos impostos absurdos daqui, ou seja,
irão agora pagar impostos em outro país... Por que será? Porque aqui não há incentivo. Falta de
estrutura e falta de lucidez, isso que
eu chamo de "Entregar a Soberania
Nacional".
Soberania não é somente
colocar soldados militares nas fronteiras. O País nunca foi tão próspero, problema é que nossos governantes
ganham eleições por saberem aparecer e
ainda têm mentalidade medíocre. São vendidos. Basta colocar dólares na mão ou
falar com um pouco de sotaque que eles entregam tudo.
APAGÕES NA AVIAÇÃO
Voei muito na Amazônia e
garanto que depois que aquilo virar um
deserto ninguém mais vai querer assumir. O desmatamento está na razão é
de um campo de futebol por segundo.
Hoje só fazem hidrelétricas
por causa do apagão de 2002. Esses apagões na aviação irão se repetir
pelos próximos 20 anos. E lembre-se que
a Copa do Mundo e as Olimpíadas serão em
época de nevoeiro.
A SOLUÇÃO É ALUGAR O BRASIL!
A Infraero já arrumou duas
soluções; tirar os bancos de suas "Rodoviárias" para dar mais espaço
para os passageiros ficarem em pé, e
liberar internet Wi-Fi de graça como se fosse um "cala-boca" para seus usuários.
Hoje a aviação brasileira é realmente
uma surpresa diferente a cada dia, "a mess", (uma bagunça), como definiu um piloto europeu esses dias atrás, e
garanto a vocês que ser pego de surpresa
na aviação tem consequências trágicas.
Solução: primeiro de tudo é: Os políticos começarem
a pensar como governantes desenvolvidos pensam ou, como disse o Raul Seixas: a solução é alugar o Brasil.
GIGANTE ADORMECIDO ENTRE
PARENTES
Nos EUA, Europa e Ásia constroem um aeroporto para atender uma demanda que só terá daqui 20 ou 30 anos e com
pátio suficiente para estacionar mais de
100 aviões de grande porte juntos. Isso é bem diferente dos puxadinhos brasileiros
que não dão conta nem da demanda atual.
Enquanto você lê esse e-mail,
na Índia estão sendo construídos mais de
10 aeroportos maiores do que o de Guarulhos. Na China são mais de 70 sendo construídos e os 3 países: China,
Brasil e Índia fazem parte do mesmo
grupo chamado "BRIC", que ainda incluem Rússia e África do Sul. Parece que só o Brasil ainda não acordou
entre esses cinco.
O POVO BRASILEIRO SÓ SABE
RECLAMAR
Já é um absurdo os aeroportos
brasileiros não terem metrôs. Os estrangeiros, quando chegam aqui e não veem metrôs nos aeroportos,
acham que é uma piada até entenderem que
não existe mesmo. Em qualquer aeroporto no estrangeiro tem metrô.
Que país é esse? O brasileiro
se compara muito aos EUA, porém o povo
americano sabe exigir de seus governantes, por isso o governo não espera ser pressionado pra poder começar a
fazer algo.
O povo brasileiro só sabe reclamar. Só não sabe
reclamar para a pessoa certa, ou orgão
"competente" certo. Reclama pro vizinho e pro amigo, mas quase
ninguém entra no site do Senado ou da
Câmara dos deputados pra enviar e-mail para
reclamar do seu político ou pelo menos para saberem o que eles estão fazendo.
AQUI É O FIM DO MUNDO
É muito fácil ir aos Estados
Unidos passear, fazer compras e voltar falando que lá é o máximo e aqui é o fim
do mundo. De fato são décadas de atraso,
porém lá o povo é mais consciente com relação ao que seus políticos estão fazendo com o dinheiro
público e a burocracia no país deles
praticamente inexiste se comparado ao nosso.
No Brasil a ANAC leva 30 dias para emitir uma carteira de
aeronauta, gerando assim uma queda no
salário dos pilotos e comissários e prejuízo também para os
empregadores. Quem vai pagar essa conta?
A Anac? O Governo Federal? Nos EUA a mesma carteira é emitida em apenas uma
hora pela FAA. Sem deixar de lembrar que no
Brasil a ANAC administra um universo de 20 mil pilotos comerciais enquanto os EUA são mais de 600 mil.
Nos EUA poucos empregos
no setor público têm estabilidade,
talvez seja por isso que o funcionário
público trabalha mais, tem mais eficiência, trabalha em função do
próximo, pede desculpa se atrasou e o
trata bem o contribuinte, mesmo que seja um
latino-americano. No mais...
Reproduzido do Blog Rastilho de Pólvora
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