Este
ano, em diversos municípios brasileiros, muitos indígenas (homens e mulheres)
estão em campo, disputando com os não índios, os votos necessários para a
conquista de uma cadeira nas Câmaras Municipais. Há casos em que
os parentes disputam o executivo, alguns em busca de garantir
a reeleição. É um fato que considero de extrema importância, ver os nossos
irmãos se embrenhando num território em que (ainda) não conhecemos
muito e, conseqüentemente, onde ainda somos invisíveis, como em várias outras
coisas. Muitos, pra não dizer a grande maioria dos parentes que
buscam ocupar espaços políticos em seus respectivos municípios e estados
têm se atirado por conta e risco próprio. Não se trata de uma
decisão coletiva ou de um projeto coletivo onde ele/ela está inserido. Ter,
portanto, representantes em todas as esferas do poder legislativo e executivo é
uma necessidade nossa como povos para a qual ainda
estamos engatinhando. Precisamos estudar conhecer, debater mais,
pensar um futuro, uma meta, uma proposta coletiva.
No artigo FALTA ÍNDIO NO CONGRESSO, assinado pelo
Deputado Federal Padre Ton (PT/RO) e publicado pelo Jornal O Globo, na coluna
de opinião, página 7, da edição de 26 de junho de 2012, tratando dessa questão,
o parlamentar, que é coordenador da Frente Parlamentar em Defesa dos indos na
Câmara ,baseado nos dados do IBGE/10 e do TSE- Tribunal Superior Eleitoral,
mostrou que o Estado de Roraima é o único estado em que os
índios podem eleger um representante à Câmara Federal , sem
depender da votação de eleitores não indígenas. Na década de 90, não me recordo
exatamente em qual eleição geral, por apenas 12 votos não
tivemos a eleição do macuxi Zé Adalberto para a
Câmara dos Deputados, o que confirma de fato a observação do parlamentar.
Naquela ocasião, Zé disputara o pleito pelo PC do B.
Nessa nova fase, e com base nos estudos apresentado pelo
Padre Ton, temos meditado profundamente na necessidade de trabalhar para
reagrupar nossas forças no Estado, criando espaços de debates e de diálogos
entre todas as organizações indígenas de Roraima, trazendo junto desta feita,
as organizações indígenas que militam junto aos índios da cidade ou
índios urbanos, como queiram, para marchar junto em 2014 em busca de
uma vaga na Camada dos Deputados. Se lograrmos êxitos
nessa empreitada, temos no estado, bons nomes, como por exemplo, o da Dra.
Joênia Wapixana, que pode ser potencialmente trabalhado para representar
essa união de força, encabeçando uma coligação que pode junto ter um segundo
candidato ao legislativo estadual. O que devemos fazer então é aquilo que os brancos
já são expert, conversar, dialogar, pactuar.
Mas isso não é tudo. Um dos principais gargalos que penalizam
os nossos candidatos e os deixam num embate desigual com os não índios é a
questão financeira. A ausência deste, para permitir ao candidato a montagem
de uma estrutura necessária para deslocamento, divulgação de propostas,
organização das bases nos municípios, aquisição de combustível e apoio
logístico à equipe de campanha são itens fundamentais que fazem com que bons
candidatos e candidatas morram na praia quando não tem isso. Não podemos ser
ingênuo quanto a isso. A união das organizações, o pensamento coletivo é
importante, mas isso é uma esfera, a da executiva. A base, onde está exatamente
os votos e os votantes é o palco e o cenário da guerra onde todos os políticos
e candidatos chegam,ou pelo menos os que tem estrutura. Em Roraima, no meio
político, já é corrente a idéia de que , ganha eleições quem guarda fôlego (leia-se
dinheiro) para os últimos 15 dias de campanha. É quando ocorre o arrastão
final, negociatas, compras de votos e por ai vai. E quando também nossos bons
candidatos índios acabam vendo escorregar pelos dedos os seus votos, em outros
momentos tidos como garantidos. Esses são casos reais que acontecem que também
temos que saber lidar com elas e não perde-las de vista.
Considerando tudo isso, precisamos nos unir, mas também,
precisamos a partir dai, criar uma estrutura, um sistema, uma campanha ou algo
do tipo, para angariar os recursos necessários para esse embate. Penso que, considerando
o atual momento crítico e perigoso que todos nós indistintamente enfrentamos,
com séries de derrotas no Congresso, nos tribunais, na AGU, etc, precisamos
fazer com que essa união seja nacional. Nós precisamos pensar isso como nações,
como povos. Precisaremos também contar com um cinturão forte de bons aliados
nessa empreitada. Na campanha de angariação de fundos, por exemplo,
precisaremos ter uma comissão de notáveis (professores, juízes, advogados, etc)
que são simpáticos à causa, para acompanhar de perto todo o processo para que
se legitime e assegure toda lisura possível. Será assim, caminhando junto,
fiscalizando junto, atuando junto que poderemos obter o êxito tão
esperado. Atualmente, para se ter uma noção de gastos de campanha,
nenhum candidato a deputado federal em Roraima, tem gasto inferior a R$ 1, 5
milhões de reais. É a média que uma campanha bem feita e forte exige para
eleger um(a) candidato que esteja também numa boa coligação.
Enfim, esse é um desafio importante que vamos enfrentar, para
a qual, a participação e a contribuição de todos será de fundamental
importância. Desde já, estamos aceitando dicas e sugestões.
Muito obrigado.
Alfredo B. P. Silva Wapixana
Brasília- DF
Brasília- DF
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