Finlandês revela que clima entre ele e brasileiro não era bom
nas corridas em que atuaram como companheiros de McLaren, no fim de 93.
Se há uma personalidade de quem Kimi Raikkonen tirou parte de
sua famosa “sinceridade ácida”, esse alguém é Mika Hakkinen. Bicampeão
mundial com a McLaren em 1998 e 99, o finlandês também era conhecido por
suas declarações “curtas e diretas”.
Em entrevista concedida à Sky Sports, que está publicada na íntegra neste link dos nossos parceiros do Jalopnik,
o finlandês relembrou seu primeiro ano como piloto da equipe inglesa,
1993. Na época, ele teve o peso de substituir Michael Andretti nas três
últimas corridas do ano, tendo como companheiro nada menos que o
tricampeão mundial Ayrton Senna.
Em seu primeiro treino classificatório, no GP de Portugal, Hakkinen
surpreendeu a todos ao ser mais rápido que o brasileiro, conhecido por
sua enorme superioridade em volta lançada, por meio décimo, alcançando o
terceiro lugar no grid. Ao rememorar o episódio, o nórdico disse que
sentiu aquele feito como “algo normal”, embora Senna não tenha aceitado a
situação da mesma forma.
“Antes do GP de Portugal, eu fiz alguns testes junto com Ayrton e ele
sempre era mais veloz do que eu. Mas eu sabia que o desempenho dos
carros não era o mesmo, porque nos testes você experimenta diferentes
itens em cada carro. Então eu sabia que, obviamente, Ayrton poderia
andar mais rápido do que aquilo, mas eu também poderia ser mais rápido”,
iniciou.
“Então, quando chegamos a Portugal, eu estava bastante confiante de
que poderia conquistar um grande resultado. Dentro de mim, eu tinha a
confiança de que poderia ser um pouco mais rápido que Ayrton, mas não
sabia se, na pista, isso iria se concretizar. Quando veio a
classificação, e eu fui mais rápido do que ele, foi maravilhoso a forma
como as pessoas reagiram.
Elas ficaram realmente surpresas. Eu falava:
“Isso é normal”, mas ele era um tricampeão, sempre o mais rápido da
pista, mesmo antes de eu entrar na F1″, acrescentou.
Segundo Hakkinen, a pequena vantagem obtida em sua volta rápida veio
na velocíssima curva 1, algo que teria gerado grande surpresa no próprio
tricampeão. “Ele ficou maravilhado. Acho que houve mais ou menos uma
curva só em que eu fui mais rápido, a primeira, que era praticamente de
pé cravado. Você só tirava um pouco o pé do acelerador e logo cravava de
novo. E eu fui cerca de meio décimo mais rápido do que ele, não muita
coisa. Eu voltei à garagem, Ayrton veio conversar comigo e disse: ‘Como
você fez isso?’”, contou.
Entretanto, aquele episódio acabou sendo o estopim para a formação de
uma pequena “rivalidade interna” entre ambos nos GPs do Japão e da
Austrália. “Minha relação com Ayrton não era muito boa. Ela ficou
difícil a partir do momento em que eu fui mais rápido que ele em uma
classificação. A partir daí, foi uma batalha intensa pelo resto da
temporada. Em Suzuka, eu poderia ter sido mais rápido que ele na
classificação, caso não tivesse sofrido uma falha mecânica, mas na
Austrália ele foi realmente mais veloz. Foi só em uma curva, mas foi o
suficiente”, relatou.
Para Hakkinen, foi essa richa de 93 que contribuiu para que Senna
tivesse uma reação tão destemperada no GP do Pacífico de 94, quase sete
meses depois, quando o brasileiro, já na Williams, foi tirado por ele da
prova em um acidente na largada. “Depois da corrida, eu fui vê-lo e
pedir desculpas, dizer que não queria fazer aquilo, mas ele estava muito
bravo. Eu falei: ‘Calma, cara, eu não fiz de propósito, essas coisas
acontecem’”, disse.
De acordo com Mika, as desavenças entre os dois só seriam dirimidas
no voo de volta do Japão, quando eles tiveram uma conversa mais amena.
“Nós voltamos à Europa no mesmo avião depois dessa corrida. Ele veio me
ver, começou a falar comigo e acho que tinha entendido queseu
comportamento não estava muito bom. Depois disso, tudo ficou bem, mas aí
aconteceu o que aconteceu [o acidente fatal em Ímola, duas semanas
depois].
”Apesar dos problemas, Hakkinen ressaltou que a postura de Senna o fez
tirar muitas lições profissionais para o resto da carreira. “Eu aprendi
muito com Ayrton. Você tinha que ser um cara muito duro para batê-lo.
Não adiantava chegar lá sorrindo e se divertindo. Não. Era precisa ter
foco e saber o seu lugar”, completou.
O vídeo com a entrevista de Hakkinen (em inglês) tem quase 50 minutos
de duração. Nela, o finlandês fala sobre o início da carreira, o
apadrinhamento de Keke Rosberg, o início na F1, pela Lotus, o grave
acidente sofrido em 1995, os anos de glória com a McLaren, a rivalidade
com Michael Schumacher e vários outros assuntos. Leonardo Felix-Uol
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