quarta-feira, 18 de junho de 2014

Copa do Mundo é fichinha para quem faz o Peladão do Amazonas

O Peladão tem mais de mil e se intitula o maior campeonato do mundo
O Peladão tem mais de mil e se intitula o maior campeonato do mundo
Campeonato de Peladas do Amazonas ou o nome consagrado pela boca do povo: Peladão. Assim é chamado o torneio de várzea de Manaus que tem números que impressionam. Na última edição foram 1.136 times inscritos e absurdos 22,8 mil atletas participantes. Montar a tabela de jogos é coisa de louco, diz o coordenador geral Arnado Santos, 75 anos.
Tudo é feito sem a estrutura ou o orçamento bilionário da FIFA e mesmo assim os organizadores afirmam que fazem o maior campeonato do mundo. Para comprovar o que dizem todas as súmulas, fichas de inscrição e documentos das partidas são guardados. "Esperamos entrar no Guinness", explica Arnaldo.
Se os 64 jogos da Copa rendem história, imagina uma competição com 2,6 mil partidas. Mas o torneio é especial também por causa de suas peculiaridades, como a importância das mulheres. Cada time tem uma rainha, e se ela for escolhida a Rainha do Peladão a equipe ganha a chance de ir direto para as oitavas de final sem importar o resultado em campo. A seleção se dá num reality show que ocorre num barco que navega pela Bacia do Amazonas.
O próprio nome dos competidores chama a atenção e o sorteio pode colocar frente a frente jogadores do Stifler contra os do Gatos Bolados, ou o Lanche Jacaré FC diante do Beco Yarão. O prestígio do Peladão é tão grande em Manaus que a última partida do Vivaldão, estádio demolido para dar lugar a Arena Amazônia, foi a final da competição. Compareceram 46 mil pessoas, público maior que a soma de todo os jogos do último campeonato estadual do Amazonas, que foi de 41 mil torcedores, ou da badalada partida Itália e Inglaterra pela Copa que levou 39,8 mil pessoas ao estádio.
Mas é um campeonato de várzea e o caminho tem tudo que uma pelada pode ter. Os campos quase não possuem grama e muitos são pura terra. A única exigência é ter 90 metros x 45 metros. "Precisa caber 11 jogadores. Mas o Peladão tem a particularidade que não existe impedimento. O lateral pode ser cobrado com o pé ou com a mão", diz Arnaldo. Além disso, cada time precisa levar sua bola e indicar um juiz.
Outras licenças poéticas em relação às regras do futebol são a proibição do uso de chuteiras e a possibilidade de jogar de pé no chão. A definição da tabela não tem Fernanda Lima e seu decote, e sim um trabalho muito mais minucioso que o da FIFA. São montados grupo de cinco ou seis times e só o primeiro avança.
Os melhores entram num novo grupo e o sistema afunila até sobrar somente 15 times. A eles se juntam o vencedor de um grupo especial formado pelo campeão do interior, dos times do povos indígenas e a equipe que teve a musa da competição.
Todos os jogos de um grupo ocorrem num único final de semana. São tantos times que se não fizer assim o torneio começa na Copa do Mundo no Brasil e termina no Mundial de 2018. E se a Justiça Desportiva Brasileira é questionada, o Peladão não tem este problema.
O campeonato conta com uma Comissão Disciplinar formada por juízes e advogados da cidade que trabalham de graça. Eles resolvem tudo e não há queixas dos clubes. A regra da competição também permite que os cartões amarelos sejam anulados se o jogador doar bolas para a organização. A quantidade começa em 10 na primeira rodada e vai até 50 nas fases seguintes. Nas datas comemorativas elas são distribuídas para crianças.
Toda essa engrenagem já chamou a atenção da imprensa internacional e as redes inglesa BBC, italiana RAI, além de National Geographic, Discovery e France 5 são alguns dos canais de televisão que fizeram reportagens sobre o Peladão. Mas, melhor que aparecer na TV estrangeira é ser o rei do bairro ou do trabalho pelos feitos nos gramados de várzea de Manaus. Reproduzido de Felipe Pereira.DO UOL, em Manaus

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