O sistema é uma parceria entre Estado, município e comunidade. O Estado
oferece os professores, o município disponibiliza salas de aula em
escolas e a comunidade rural deve se reunir para fornecer um lugar de
estadia dos professores. Na foto, a casa dos professores na vila do
Aritapera, na região da várzea santarena. A casa é uma palafita de
madeira, característica da região.
Passar 50 dias letivos vivendo em uma comunidade diferente durante nove
meses do ano. Essa é a rotina de cerca de 1.300 professores do ensino
médio no Pará. Os docentes participam de um programa modular que permite
a estudantes de área rural continuarem sua formação sem sair da região
em que moram.
Pela dificuldade em oferecer professores formados em doze disciplinas
para alunos de pequenas comunidades rurais, foi criado o Some (Sistema
de Organização Modular de Ensino) há 33 anos. Nesse modelo, em vez dos
estudantes se mudarem, são os professores que viajam.
Durante o período de permanência do professor na escola, ele terá de
dar conta de todo o conteúdo daquela disciplina que um aluno do sistema
regular teria em 200 dias letivos. "Às vezes dou seis aulas para a mesma
sala em um único dia. É um projeto de aula completamente concentrado",
explica o professor de matemática Edison Feitosa.
Na tarde de uma sexta-feira, Feitosa aguardava o horário para "tomar a
voadeira" –espécie de lancha comum na região amazônica- e visitar seus
três filhos e sua esposa em Santarém. O professor dava o primeiro módulo
de aulas em uma comunidade considerada próxima da cidade, a quase duas
horas de barco da área urbana de Santarém (699 km de Belém).
Edison aproveita para voltar várias vezes para casa para "os filhos
reconhecerem o pai", brinca. No seu planejamento do ano constam
comunidades distantes até seis horas de sua casa.
O programa atende a 441 escolas e cerca de 33 mil alunos, segundo a
secretaria estadual de Educação do Pará. As aulas do ensino médio seguem
o mesmo conteúdo programático daquelas no ensino médio regular, com 12
disciplinas. A diferença é a concentração das aulas, divididas em quatro
blocos de 50 dias letivos.
No primeiro módulo deste ano, os alunos da escola municipal Santíssima
Trindade, na vila do Aritapera, tinham aulas de língua portuguesa e de
inglês. Já na comunidade de Arapixuna, as aulas eram de física,
matemática e educação física.
Comunidades
O sistema é uma parceria entre Estado, município e comunidade. O Estado oferece os professores, o município disponibiliza salas de aula em escolas e a comunidade rural deve se reunir para fornecer um lugar de estadia dos professores.
"As comunidades são muito diferentes. Já passei 50 dias dormindo dentro
de uma sala da escola", contou Feitosa, enquanto passava uma temporada
na escola de ensino fundamental e médio Sant'Anna, na comunidade de
Arapixuna.
O professor Eládio Delfino Netoro conta que as dificuldades não
influenciam apenas a vida dos docentes. "Os estudantes estudam em locais
improvisados, como barracões comunitários, igrejas e sedes de clubes de
futebol", explica.
'Meu destino é viajar'
Na vida de Eládio, o Some apareceu como uma nova oportunidade de levar a
vida viajando. Após deixar a Marinha Mercante, onde trabalhou por dez
anos, Eládio cursou letras na UFPA (Universidade Federal do Pará). "O
principal motivo que me levou a abraçar o ensino modelar foi o trabalho
itinerante", conta. "Meu destino é viajar."
Casado e com três filhos, o professor deu aulas no primeiro módulo este
ano em uma comunidade a cerca de quatro horas de viagem de Santarém. Na
sua rota do ano, a comunidade mais distante é "Cametá, no município de
Aveiro. São aproximadamente doze horas de viagem em embarcação da
região".
Apesar da aventura, o Estado usa o salário para atrair professores para
a vida de "caixeiro viajante". Em janeiro de 2013, os docentes recebiam
uma gratificação no salário de R$ 2.862,76 por trabalharem no
programa.
Cristiane Capuchinho
Do UOL, em Santarém (PA)
Do UOL, em Santarém (PA)
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