sábado, 4 de agosto de 2012

UM ÍNDIO NO CONGRESSO



Este ano, em diversos municípios brasileiros, muitos indígenas (homens e mulheres) estão em campo, disputando com os não índios, os votos necessários para a conquista de  uma cadeira nas Câmaras Municipais. Há casos em que os parentes disputam o executivo, alguns em busca de garantir a reeleição. É um fato que considero de extrema importância, ver os nossos irmãos  se embrenhando num território em que (ainda) não conhecemos muito e, conseqüentemente, onde ainda somos invisíveis, como em várias outras coisas. Muitos, pra não dizer a grande maioria dos parentes que buscam ocupar espaços políticos em seus respectivos municípios e estados têm  se atirado por conta e risco próprio. Não se trata de uma decisão coletiva ou de um projeto coletivo onde ele/ela está inserido. Ter, portanto, representantes em todas as esferas do poder legislativo e executivo é uma necessidade nossa como povos para a qual  ainda estamos  engatinhando. Precisamos estudar conhecer, debater mais, pensar um futuro, uma meta, uma proposta coletiva.
No artigo FALTA ÍNDIO NO CONGRESSO, assinado pelo Deputado Federal Padre Ton (PT/RO) e publicado pelo Jornal O Globo, na coluna de opinião, página 7, da edição de 26 de junho de 2012, tratando dessa questão, o parlamentar, que é coordenador da Frente Parlamentar em Defesa dos indos na Câmara ,baseado nos dados do IBGE/10 e do TSE- Tribunal Superior Eleitoral, mostrou que o Estado de Roraima é o único estado em que os índios podem eleger um representante à Câmara Federal , sem depender da votação de eleitores não indígenas. Na década de 90, não me recordo exatamente em qual eleição geral, por apenas 12 votos não tivemos a eleição do macuxi Zé Adalberto para a Câmara dos Deputados, o que confirma de fato a observação do parlamentar. Naquela ocasião, Zé disputara o pleito pelo PC do B.
Nessa nova fase, e com base nos estudos apresentado pelo Padre Ton, temos meditado profundamente na necessidade de trabalhar para reagrupar nossas forças no Estado, criando espaços de debates e de diálogos entre todas as organizações indígenas de Roraima, trazendo junto desta feita, as organizações indígenas que militam junto aos índios da cidade ou índios urbanos, como queiram, para marchar junto em 2014 em busca de uma vaga na Camada dos Deputados. Se lograrmos êxitos nessa empreitada, temos no estado, bons nomes, como por exemplo, o da Dra. Joênia Wapixana, que pode ser potencialmente trabalhado para representar essa união de força, encabeçando uma coligação que pode junto ter um segundo candidato ao legislativo estadual. O que devemos fazer então é aquilo que os brancos já são expert, conversar, dialogar, pactuar.
Mas isso não é tudo. Um dos principais gargalos que penalizam os nossos candidatos e os deixam num embate desigual com os não índios é a questão financeira. A ausência deste, para permitir ao candidato a  montagem de uma estrutura necessária para deslocamento, divulgação de propostas, organização das bases nos municípios, aquisição de combustível e apoio logístico à equipe de campanha são itens fundamentais que fazem com que bons candidatos e candidatas morram na praia quando não tem isso. Não podemos ser ingênuo quanto a isso. A união das organizações, o pensamento coletivo é importante, mas isso é uma esfera, a da executiva. A base, onde está exatamente os votos e os votantes é o palco e o cenário da guerra onde todos os políticos e candidatos chegam,ou pelo menos os que tem estrutura. Em Roraima, no meio político, já é corrente a idéia de que , ganha eleições quem guarda fôlego (leia-se dinheiro) para os últimos 15 dias de campanha. É quando ocorre o arrastão final, negociatas, compras de votos e por ai vai. E quando também nossos bons candidatos índios acabam vendo escorregar pelos dedos os seus votos, em outros momentos tidos como garantidos. Esses são casos reais que acontecem que também temos que saber lidar com elas e não perde-las de vista.
Considerando tudo isso, precisamos nos unir, mas também, precisamos a partir dai, criar uma estrutura, um sistema, uma campanha ou algo do tipo, para angariar os recursos necessários para esse embate. Penso que, considerando o atual momento crítico e perigoso que todos nós indistintamente enfrentamos, com séries de derrotas no Congresso, nos tribunais, na AGU, etc, precisamos fazer com que essa união seja nacional. Nós precisamos pensar isso como nações, como povos. Precisaremos também contar com um cinturão forte de bons aliados nessa empreitada. Na campanha de angariação de fundos, por exemplo, precisaremos ter uma comissão de notáveis (professores, juízes, advogados, etc) que são simpáticos à causa, para acompanhar de perto todo o processo para que se legitime e assegure toda lisura possível. Será assim, caminhando junto, fiscalizando junto, atuando junto  que poderemos obter o êxito tão esperado.  Atualmente, para se ter uma noção de gastos de campanha, nenhum candidato a deputado federal em Roraima, tem gasto inferior a R$ 1, 5 milhões de reais. É a média que uma campanha bem feita e forte exige para eleger um(a) candidato que esteja também numa boa coligação.
Enfim, esse é um desafio importante que vamos enfrentar, para a qual, a participação e a contribuição de todos será de fundamental importância. Desde já, estamos aceitando dicas e sugestões.
Muito obrigado.
Alfredo B. P. Silva Wapixana
Brasília- DF

Nenhum comentário: